segunda-feira, julho 09, 2007

O DCE além da luta judicial - as gestões de 1992 a 1995

Para não ficar limitado apenas nas discussões judiciais eu decidi criar mais um tópico e falar um pouco sobre os outros acontecimentos das gestões de 1993 a 1995. Acredito que todos acharam pertinem, pois não podemos limitar 3 gestões (mais precisamente duas delas) apenas a uma batalha judicial.

A gestão que iniciava no segundo semestre de 1992 representava uma grande renovação de militantes. A chapa encabeçada pelo estudante de Direito, Vitor Hugo Gomes, colocava no cenário do movimento estudantil da época vários militantes novos, juntamente com alguns que já tinham participado das outras gestões. Esse movimento foi bastante natural principalmente pelo fato do mesmo grupo estar se elegendo pela 4ª vez.

Além dos desafios que já falei no tópico anterior (as consignações), o DCE pautou um outro assunto crucial para os estudantes, a Estadualização da UCS.

Movimento Pró Universidade Pública Estadual
A proposta da criação de uma Universidade Pública Estadual no Rio Grande do Sul era uma proposta do mandato do Deputado Beto Albuquerque. Uma das discussões era transformar as universidades comunitárias (a UCS se encaixa nesse caso) em Campi da nova Universidade Estadual.

O DCE da UCS puxou esse debate realizando uma campanha pública. Vale lembrar que o governador naquele ano era o Alceu Collares, PDT, e o projeto não conseguiu ir muito a frente na Assembléia Legislativa. Em Caxias do Sul o DCE conseguiu uma importante vitória, a concordância pelo Conselho Diretor da FUCS em abrir mão do patrimônio para a Estadualização.

O Deputado Beto Albuquerque tentou aprovar o projeto de Universidade Estadual por duas vezes sendo derrotado em ambas. Somente em 1999 o Governador Olívio Dutra cria, atendendo uma demanda do Orçamento Participativo, a UERGS. Não era a estadualização que o DCE lutou tanto em 1992 e 1993, mas era uma universidade pública, com unidade em Caxias do Sul. O sucateamento que a UERGS sofreu durante os governos que se sucederam é de conhecimento de todos.

A Regionalização

Outro fato importante que acontece nesse mesmo período foi a Regionalização da UCS. De uma hora para outra a UCS aumenta enormemente o número de alunos, incorpora Bento e Vacaria e cria outros núcleos. Isso impôs um desafio aos dirigentes: Como incluir, no movimento estudantil, essa nova diversidade de alunos que foram incorporados pela UCS. É de se ressaltar que até hoje os estudantes dos Campi e Núcleos da UCS não estão completamente inseridos pelo movimento estudantil.

O Fora Collor

Com certeza 1992 foi uma dos anos mais movimentados da década de 90. O governo Collor se afundava na corrupção e perdia cada vez mais apoio parlamentar. No movimento estudantil, os caras-pintadas, saiam às ruas exigindo o impeachment do presidente. Em Caxias esse movimento foi capitaneado principalmente pelo DCE que organizou, juntamente com o movimento sindical e político, manifestações de rua chamando o Fora Collor (foto). Muita gente fala, com um certo saudosismo recente, sobre esse movimento, mas poucos o inserem no contexto da época. É preciso lembrar que a mídia, principalmente a Rede Globo, fez uma grande cobertura favorável as manifestações estudantis. Elas começaram muito pequenas em março de 1992 e foram ficando cada vez maiores quanto mais espaço a TV dava a elas.

Um fato que passa esquecido é que uma comissão de personalidades, políticos, dirigentes estudantis e sindicais fizeram um reunião com o Roberto Marinho para pedir que a Rede Globo desse uma cobertura igualitárias das manifestações pró e contra o Collor. Ao fazer isso o movimento cara pintada saí do anonimato e ganha o Jornal Nacional.

A Eleição para Reitor

Na minha opinião o DCE perdeu um momento de suma importância em 1994. Ruy Pauletti iria para a reeleição e o DCE poderia ter realizado um processo de eleição paralela. Explico melhor. O reitor, ainda hoje, é eleito pelo Conselho Diretor da FUCS. A comunidade universitária é ouvida apenas se houver mais de 6 candidatos. Bom em 1994 não havia mais de 6 candidatos para Reitor, entretanto o DCE poderia ter feito um eleição paralela, ou seja, os professores, estudantes e funcionários votariam e isso serviria como forma de pressão por mais democracia na Universidade.

Havia, inclusive, proposta de fazer isso. Infelizmente a proposta foi enterrada pelo receio de que o Pauletti saisse como vitorioso até mesmo na proposta informal. Na minha opinião perdemos 12 anos no avanço para um processo de escolha mais democrático (que foi alcançado só em 2006).

Cultura e Arte

Nesse aspecto o DCE inovou bastante. Foi realizada a primeira gincana do DCE que teve a participação de 5 equipes, mobilizando centenas de estudantes. Com provas que englobavam arte, esporte, curiosidade e até política, a Gincana do DCE movimentou o primeiro semestre de 1993.

A recepção aos alunos também passa a ser uma aação do DCE. A entidade se incorpora aos trotes e cria, em 1994, o trote solidário. Com a doação de 1 kg de alimento não perecível o estudante recebia um "passe-livre" que o isentava de levar o trote dos colegas. Os alimentos eram arrecadados para a campanha contra a fome que tinha como seu idealizador o Betinho. O trote solidário encerrou com um show da banda Bandida no estacionamento do Bloco F.

Em novembro de 1992 o DCE conquista a sua sede atual, no Centro de Convivências das UCS. Com o espaço ampliado a entidade valoriza mais os convênios com uma livraria e uma vídeo-locadara, criando uma opção aos estudantes da UCS para esses serviços.

Gestão Chega uma ruptura

O primeiro semestre de 1994 marca uma das mais disputadas eleições da história do DCE. Duas chapas disputam a diretoria da entidade. A Chapa 1, da situação, era a Quebra-cabeça - você é a peça que faltava nessa luta; a Chapa 2, de oposição, chamava-se Chega. A chapa oposicionista fez uma campanha bastante apática, passou em poucas salas de aula e tinha poucos militantes. Entretanto fez um bom trabalho de visual e centrou sua campanha no fato de ser oposição.

A chapa situacionista tinha um volume muito maior de campanha, de pessoas, de material, mas sofria o desgaste de representar 5 gestões. O resultado foi a vitória da oposição por apenas 8 votos. Nem a chapa vencecedora acreditava que tinha ganho as eleições. A esperança era que a gestão do DCE era proporcional, então os cargos seriam distribuídos meio-a-meio. Acontece que num acesso de "quanto pior melhor" a situação decide não participar da gestão. Aqui cabe um relato pessoal. A reunião que tomou essa decisão foi uma das mais tensas que as pessoas participaram até então, e a decisão saiu por uma votação apertada.

A Gestão Chega foi um desastre. Sem exagero de minha parte. Em sua primeira ação votaram favorável ao reajuste das mensalidades, aparelharam o DCE, atrasaram as eleições, roubaram uma urna durante o processo eleitoral (o presidente do DCE chegou a receber voz de prisão por isso) e não deram posse a nova gestão.

O começo do fim da gestão Chega foi quando eles negociaram a troca do repasse dos DAs para a construção de uma sede de menos de 80 m² ao lado da Creche Universitária. Obviamente os DAs não gostaram muito da idéia e derrotaram a proposta do DCE em um Conselho de DAs.

Fotos:
1 - Passeata do Fora Collor em 1992;
2 - Equipe organizadora de Gincana do DCE (1993);
3 - Posse da gestão Chega (1994);

Obs: Se alguém souber dos créditos dos autores das fotos favor avisar pois elas são do arquivo do DCE e não tem o registro dos autores.

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