segunda-feira, julho 16, 2007

O troca-troca de forças

As diretorias do DCE sempre tiveram como característica a longevidade das forças políticas. Isso mudou no período de 1995 a 1999, quando houve uma alternância de forças políticas na gestão do DCE.

Tudo começou ao final da gestão
Chega onde um grande movimento de oposição a diretoria do DCE foi constituído a partir dos Diretórios Acadêmicos. O surgimento dessa força de oposição deu-se em um Conselho de DAs onde foi discutida uma proposta que trocava o repasse do DCE/DAs e a atual sede da entidade pela construção de uma "sede social" do DCE ao lado da Creche (a construção seria um pouco maior do que a sala atual da entidade). Essa proposta foi totalmente rechaçada pelo Conselho. Somando-se a isso o fato da gestão ter sido, no mínimo, incipiente, criou-se um movimento forte de oposição que conseguiu o apoio de praticamente todos os Diretórios Acadêmicos.

A eleição que ocorreu em outubro de 1994 (a data correta era junho) teve como vitoriosa a Chapa Indignação, que era presidida pelo estudante de Jornalismo, Paulo Ribeiro. A chapa de oposição venceu por larga diferença (75% dos votos). A primeira dificuldade enfrentada pela diretoria eleita foi entrar na sala da entidade. Foi preciso convencer o vice-presidente do DCE, Felipe Slomp Giron, para que ele desse posse a diretoria eleita.

A dificuldade na transição entre as diretorias deve-se ao fato do processo eleitoral ter sido muito conturbado, devido as tentativas situacionistas em se manter no poder a qualquer custo. A chapa de situação modificou a composição da comissão eleitoral, tentou esvaziar a participação da oposição e, pasmem, roubaram uma urna.

Se não bastassem esses problemas a nova diretoria assumiu com dívidas, inclusive dos panfletos da chapa de situação. A Gestão Indignação e a seguinte, Atuação, foram as duas gestões que eu participei como Tesoureiro do DCE.

Propostas alternativas, a inversão na discussão das mensalidades
Superada as dificuldades iniciais a gestão Indignação enfrenta a discussão do reajuste das mensalidades. Nesse momento os processos de consignação estavam chegando no esgotamento (leia mais) e o DCE não poderia mais conduzir sua luta apenas pelo caminho jurídico. Realizou-se uma Assembléia Geral do DCE para discutir o reajuste das mensalidades. Essa foi a primeira gestão que abriu os números, que "justificavam" o reajuste das mensalidades para todos os alunos.

Não se conseguiu uma Assembléia muito massiva (ela foi marcada para o Centro de Convivências), mas uma estratégia conseguiu aumentar o público. As caixas de som forma colocadas na frente do Bar Palli (Bar do Olavo). Dessa Assembléia elegeu-se uma comissão de negociação que discutiria os índices de reajuste com a Reitoria.

A diferença dessas negociações para as anteriores foi a inversão do debate. Ao invés do DCE ficar dizendo que não queria aumento era a Reitoria que tinha que explicar por que as mensalidades deveriam ser reajustadas. O que mudou? Mudou a abordagem. Num estudo feito sobre as planilhas de cálculos das mensalidades e a proposta orçamentárias descobriu-se que a UCS não incluía o aumento do número de alunos no cálculo das mensalidades. Logo, um valor dividido por menos pessoas resultava em um valor mais alto. O crescimento da UCS, na época, não era desprezível. Ele era de mais de 10% ao ano. De posse dessa informação o DCE apresentou uma proposta de redução de mensalidades e foi a público discuti-lá com a Reitoria. O efeito foi surpreendente. A Reitoria não teve como justificar o reajuste e aceitou uma redução no valor já fixado das mensalidades. A redução foi temporária, mas foi um grande avanço por ter exposto como a UCS procedia na discussão das mensalidades.

UCSToque, Feira do Livro e muito mais
Várias atividades culturais foram realizadas pelas gestões de 95 a 97. A recepção aos calouros era realizada na frente do Centro de Convivências (naquela época havia um gramado onde é o centro cívico e a escadaria (foto). O UCSToque - A festa do bixo grilo, dava espaço para as bandas caxienses. É bom lembrar que Caxias era mais pobre em espaços culturais (se é que isso é possível) do que hoje. Nas duas edições do UCSToque, tocaram: Maha Mantra, Pietro Ferretti, Snakes, Colarinhos Caóticos, entre outras bandas.

Em junho de 1996 Caxias sediaria do Congresso da UEE/RS (leia mais abaixo). Para a festa do Congresso foi promovido um show da Bandalieira e de Nei Lisboa. O Congresso não saiu, mas o show sim. Num sábado de muito nevoeiro, frio e chovendo a Vila Olímpica da UCS recebeu mais de 2 mil pessoas. No final de 1996 o DCE produziu um dos maiores shows daquele ano. Barão Vermelho que estava lançando do CD Carne Crua lotou, também, a Vila Olímpica da UCS.

Além dos shows o DCE encampou outras propostas culturais. No final de 1995 Caxias não realizou sua Feira do Livro. Nesse momento o DCE lançou a proposta de realizar uma Feira do Livro Universitário. Mais que um espaço de comercialização de livros, era um local para a realização de atividades culturais. As livrarias participantes expunham no Centro de Convivências e eram realizadas atividades todos os dias. Tinha a hora da poesia, lançamento de livros, transmissão de programas de rádio ao vivo, trouxemos o Carlos Gerbase e até colocamos no ar uma rádio "experimental" no Bloco H.

O Congresso da UEE em Caxias
No começo de 1996 ocorreu um Conselho de DCEs da UEE. A pauta da reunião, que aconteceu na Unissinos, era a refundação da UEE. Numa articulação com vários DCEs fizemos de Caxias a cidade sede do Congresso. A organização do Congresso até que estava boa, havia alojamento, alimentação, local para as plenárias. O que não havia era a articulação de várias forças do movimento estudantil estadual. Com o receio de que houvesse apenas uma força participando do Congresso, cancelaram ele.

Depois disso o Congresso da UEE ocorreria uma única vez de forma pública, as demais apenas escondidas. Foi a perda de um grande momento de articulação do movimento estudantil estadual.

Nem esquerda, nem direita
A gestão que ganharia as eleições de 1997 chegava com um perfil bastante indefinido, nem direita, nem esquerda. A eleição do Carlos Eduardo Dani, Dudi, foi bastante tumultuada. Uma grande disputa com três chapas inscritas, um escrutínio que aconteceu somente uma semana depois do fim das eleições, um Conselho de DAs auto convocado e mais outras aberrações políticas fizeram parte do processo.

Desde o inicio da gestão o mandato do Dudi mostrava uma contrariedade com o discurso de campanha. A gestão era favorável ao convênio entre FUCS e Estado para a administração do Hospital Geral, deu pouco importância para a reforma dos estatutos da UCS e atrasou as eleições do DCE. De marcante só a realização de um show com o Cidadão Quem que lotou o Centro de Convivências.

O Dudi era vice-presidente da gestão Atuação e apoiou a chapa Exija no ano seguinte. A gestão Exija tinha como presidente Rodrigo Beltrão.

17% é um Assalto
Uma das principais lutas da gestão Exija foi contra o aumento das mensalidades. Mais precisamente quando a UCS perdeu o atestado de filantropia no segundo semestre de 1998. Com isso a Reitoria reajustou as mensalidades em 17%. Uma grande mobilização dos alunos foi chamada para barrar esse reajuste. Foram duas assembléias gerais, que lotaram o Centro de Convivências, e uma paralização - diurno e no noturno - que trancaram a BR 116. O resultado da mobilização dos estudantes foi a redução do reajuste para 7%. Uma grande vitória se considerarmos que a UCS já havia emitido e enviado carnês complementares.

Um fato interessante marcou essa mobilização. A Universidade estava instalando uma estátua na frente das paradas de ônibus (na entrada da UCS). Ela representava uma pessoa estilizada com os braços para o alto. Embora ainda não estava completa (hoje há uma estrutura que parecem assas), foi aproveitada a cena e foi feito um panfleto com a imagem da estátua, na infeliz posição, dizendo: "Socorro!!! 17% é um assalto". Não preciso dizer que o escultor não gostou nada do panfleto, nem o Reitor.

Apesar de uma grande mobilização de massas a gestão não conseguiu dialogar com o Diretórios Acadêmicos criando um grande foco de oposição que resultaria na eleição de Harty Paese para presidente do DCE, a primeira intervenção, descarada, da Reitoria no DCE. Isso fica para o próximo artigo.

Um comentário:

O Mudo Mundo disse...

Bacana esse resgate histórico, num momento em que temos dificuldade de identificar movimentos como o da OAB-SP e outros, como bem trabalha L.F. Verissímo em sua "Cumplicidade". Entretanto, seria importante também um resgate no sentido de expor as conjunturas e momentos de embate, conflito e lutas, num espaço tão disputado como o ME, em um projeto de publicação das Memórias do ME - CAXIAS e do DCE/UCS.