sábado, setembro 22, 2012

Fuerzabruta. Contagiante

Assistir o espetáculo Fuerzabruta (Argentina) no 19º Porto Alegre em Cena, na noite de ontem foi um exercício que, felizmente, acabou sendo bastante interessante. Primeira coisa que já aprendi aqui em Porto é que "ingressos esgotados" não quer dizer que não se venda mais ingressos. Incrível isso mas é o fato. No Porto Alegre em Cena isso é bem mais evidente. Por ter muitas cortesias distribuídas não raras vezes sobram ingressos para comprar na hora e, uma boa negociação, sempre gera uns lugares a mais. Ontem não foi diferente. Acompanhado pelo Sandino, que me disse que tinha um plano para entrar, me embrenhei na fila da bilheteira. Ela não era grande, mas tivemos que nos indispor com furas-filas - fala sério. Ingresso na mão, vamos ao espetáculo.

A primeira coisa a se falar sobre o Fuerzabruta é o lugar onde ele apresentado. O Pepsi on Stage é o palco de um espetáculo que não é teatro, não é dança, não é música, mas é tudo isso junto e misturado. Num espaço reservado para shows e com um público que comumente não iria ao teatro, ou a um espetáculo de dança, mais de mil pessoas se aglomeraram no espaço da apresentação.

Fuerzabruta cria uma imersão, quase literalmente, do público com o espetáculo. O palco além de móvel, está na frente, atrás, dos lados e acima do espectador. Durante mais de uma hora você é, literalmente, atingido pelos quatro elementos (ou metáforas dele). Água, ar são os mais evidentes. A cena toda começa com um caminhante, as vezes corredor, que em sua "jornada" (feita numa plataforma como uma esteira) é movimentada para o meio do público. Ele precisa desviar cotidianamente de obstáculos, sejam pessoas, mesas, cadeiras ou paredes que atravessa (no mais belo exemplo cinematográfico a poucos metros de você).

Num momento que simbolizaria um "sonho", ao fundo, duas bailarinas suspensas por cabos exibem uma performace, que uma pessoa do meu lado chamou de angustiante. Talvez pela leveza do movimento, talvez por isso estar sendo feito há vários metros do chão. Porém você logo é surpreendido por um espetáculo de luzes que se projetam numa lona reflexiva que fazia o papel de fundo.

Agora vem a parte que com certeza começou a contagiar o público. Os atores presos em um quarto minúsculo, arrebentam, literalmente, as paredes, e, ao som de música eletrônica iniciam a festa. A partir daí é muita dança, música eletrônica, interação direta com o público. Não dá para ficar parado. Até quem é mais idoso (e tinha alguns) tiveram que usar a máxima "em Roma faça como os romanos"!

Muito papel picado que saia das estruturas que eram arrebentadas e muita fumaça e água, sim muita água, para ficar literalmente encharcado, são as marcas dessa parte. Acima inicia-se, numa piscina de acrílico, suspensa, uma performance que mais parecia uma brincadeira de criança numa piscina rasa.

Porém essa piscina não fica só suspensa nas alturas. Ela baixa ao ponto das pessoas tocarem com as mãos. Na verdade você é estimulado o tempo todo a tocar nos objetos cênicos que, não poucas vezes, voam em sua direção.

Os mais bonitos efeitos são realizados com um bale que mostra uma incrível sinergia entre a bailarina e seu elemento cênico, a água. Tudo acaba em mais uma corrida louca e transpondo barreiras se se dissolvem no ar. O ritmo é frenético combinado com um DJ que além das pickups tinha em seu poder buzinas de caminhão e esguicho d'água.

E tudo acaba com o fim da música com gosto de quero mais. Fuerzabruta tem criação artística de Diqui James e direção técnica de Alejandro Garcia.