quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Convenções Sociais

Conveções sociais são fundamentais para a vida em sociedade, isso eu não nego. Não jogar lixo no chão, por exemplo, garante que se limpe menos a cidade e ajuda a não proliferar doenças. Fato semelhante é com o hábito de guspir no chão. Outras convenções são aceitas em algumas culturas e outras não. Arrotar, na China, é sinal de que você gostou da comida. Tente fazer o mesmo aqui no Brasil? E por aí vai.

Então as convenções sociais são uma necessidades? Acredito que elas seja indispensáveis, mas isso não quer dizer que são imutáveis. O que é socialmente aceito em uma época pode não ser na época seguinte. Um exemplo

Os egipcios já comemoravam aniversários, entretanto essa comemoração era restrita ao Faraó. Os gregos, por sua vez, acreditavam que cada pessoa tinha um espírito, ou gênio, protetor que acompanhava o indivíduo desde seu nascimento (achou parecido com o anjo da guarda?). Os romanos também acabaram absorvendo essa cultura. Inicialmente as celebrações eram limitadas aos reis ou imperadores e a família real. Com o tempo ela foi se popularizando. Como cada dia era dedicado a uma divindade essa comemoração era muito mais ao protetor do indivíduo do que em celebração a própria pessoa.

Mas era só para a elite

Isso tinha uma lógica na organização social. Se você era um trabalhador braçal não havia nenhuma importância em saber quantos anos você passou nesse planeta. Se tivesse forças para trabalhar você ia ajudar a família nos campos ou aprender um ofício, com seu paí. Quando chegasse na puberdade que era medida pelas alterações físicas, você poderia ir para a guerra. Com os ricos era diferente. Como, na Roma Antiga, você só chegaria ao Senado aos 35 anos, medir quanto tempo os aristocratas viveram era fundamental. Também como eles tinham muito dinheiro e não tinha televisão, um motivo para uma festa de arromba nunca era demais. Somente na sociedade industrial é que medir o tempo individual passou a ser necessário. Com quantos anos eu devo colocar uma criança a trabalhar numa máquina que pode mutila-lá?

A educação do proletariado surgiu aprissioná-lo


A Revolução Industrial fez com que a produção manual de bens fosse relegada a segundo plano. Os ofícios dos artesãos já não tinham mais sentido. A burguesia necessitava de pessoa que soubessem operar as novas máquinas. Aí surge a "educação para uma profissão". Aí também foi necessário estruturar um sistema, propedêutico, onde o filho do operário pudesse ir absorvendo os conhecimentos necessários para operar aquela máquina. Aqui surge essa outra convenção de que a educação liberta o cidadão. Ela pode libertar sim, mas essa educação que os filhos dos trabalhadores recebem apenas os aprissionam na sua classe. Proletário continuará sendo proletário - de preferência sem consciência de classe. Ah, aqui determinou-se que 7 ou 6 anos era era a idade ideal para entrar na escola. Então os filhos dos pobres também faziam aniversários, embora não houvesse o que comemorar.

A partir daí uma série de legislações tornaram referenciais algumas idades. Quatorze anos para ingressar no mercado de trabalho; Dezesseis para votar; Dezoito para ser totalmente responsável pelos seus atos. Como uma curiosidade final, até o quarto século a Igreja Católica proibia a comemoração de aniversários por considerá-los práticas pagãs. Isso só mudou quando ela mesmo começou a comemorar o nascimento do criador da religião, em uma festa pagã, que se chamou Natal.

Ensino compartimentado


Um dos efeitos colaterais do ensino compartimentado e sequencial como o praticado em quase todo o mundo é a premiação a quem completa uma das etapas. Se você pedir para uma criança de 8 anos para que serve a segunda série ela, provavelmente responderá: "Para passar para a terceira". Um estudante do ensino médio não seria tão honesto, mas nossas escolas encaram esse grau de ensino como preparatório para o vestibular!

Mas não há nenhum grande desafio em concluir as sucessivas séries do ensino fundamental ou médio. A dificuldade está em se manter numa escola chata, pouco aprazível, desmotivadora e não desafiadora. Isso sem falar na dificuldades da vida diária: falta de comida em casa, desemprego dos país, etc. Ao chegar na universidade há a tradição da formatura, ou seja, conceder "grau superior". No final de tudo isso, a não ser pela falta de dinheiro, é muito provável que qualquer pessoa consiga. Então onde estão os méritos disso?

No final percebemos que muitas convenções que hoje achamos normal e inquestionável são frutos de uma organização social que privilegia o capital. E datas comemorativas são um grande negócio. No nosso calendário há 7 meses gordos, onde os capitalistas estimulam o consumo. Até mesmo o Natal, que para os Cristãos é o nascimento de Cristo, que não era comemorado até o século quarto, virou um negócio.

Em resumo. Cuidado com as convenções que você segue elas podem ser simplesmente uma estratégia do capital para que você consuma cada vez mais e faça a "roda da economia girar", mas não ao seu favor.