sábado, dezembro 22, 2007

Greve de fome contra ou a favor do povo do Nordeste?

Nessa semana encerrou-se mais um capítulo de um longa novela. O Bispo Dom Cappio encerrou uma greve de fome, que durou 23 dias, contra a transposição das águas do Rio São Francisco.

A transposição do São Francisco é um projeto orçado em R$ 4,5 bilhões e que prevê a construção de dois canais que totalizam 700 km de extensão. A idéia da transposição do São Francisco vem desde Dom Pedro II porém, naquela época, faltavam recursos de engenharia para tal obra. O projeto foi abandonado mas não esquecido. Ele foi discutido durante os governos de Getúlio Vargas, em 1943, e de Fernando Henrique Cardoso, em 1994.

O projeto prevê a construção de dois canais, sendo que um deles, o leste, terá cerca de 210 km, e trará água ao estado de Pernambuco e levará água também para a Paraíba. O canal norte, por sua vez, terá 402 km, e também beneficiará Pernambuco e Paraíba, mais o Ceará e o Rio Grande do Norte. Com previsão de beneficiar 12 milhões de pessoas, o projeto prevê a captação de 1,4% da vazão de 1.850 metros cúbicos por segundos (m³/s).

Qual o impacto desse projeto?

Juntamente com a Itaipú e a Transamazonica, a transposição do São Franscisco será uma das maiores obras de engenharia do Brasil. É claro que uma obra dessa magnitude causa impactos em toda a região. O governo federal apresentou um relatório de impacto ambiental da obra. Ele foi divulgado pela Agência Brasil. Abaixo segue alguns ítens:

Impactos positivos:
  • Aumento da água disponível e diminuição da perda devido aos reservatórios.
  • Geração de cinco mil empregos durante a construção da obra (quatro anos), aumentando a renda e o comércio das regiões atingidas.
  • Abastecimento de até 12,4 milhões de pessoas das cidades.
  • Abastecimento rural com água de boa qualidade.
  • Extinção de problemas trazidos pela seca, como a escassez de alimentos, baixa produtividade no campo e desemprego rural.
  • Irrigação de áreas abandonadas e criação de novas fronteiras agrícolas.
  • A qualidade da água dos rios e açudes das regiões receptoras será beneficiada com as águas do São Francisco.
  • A oferta de água irá ajudar a fixar cerca de 400 mil pessoas no campo.
  • Redução de doenças trazidas pelo consumo de água inapropriada, reduzindo a pressão na infra-estrutura de saúde.
Impactos negativos:
  • Perda do emprego da população nas regiões desapropriadas e dos trabalhadores ao término das obras.
  • Risco de perda de biodiversidade de plantas e animais aquáticos nos rios da região.
  • Piora na qualidade de vida dos trabalhadores da região.
  • A desapropriação das terras e o êxodo das regiões atingidas alterará o modo de vida e os laços comunitários e pode provocar conflitos sociais.
  • Circulação de trabalhadores por terras indígenas de duas etnias: Truká e Pipipã.
  • Pressão na infra-estrutura urbana nas cidades que irão receber os trabalhadores.
  • A região do projeto possui muitos sítios arqueológicos, colocando-os em risco.
  • Desmatamento de 430 hectares de terra e possível desaparecimento do habitat de animais.
  • Introdução de espécies de peixe prejudiciais ao homem na região.
  • A diminuição dos volumes dos açudes provocará a redução biodiversidade de peixes.
  • Alguns rios não têm capacidade para receber o volume de água projetado, inundando os riachos paralelos.
E a greve de fome?

Longe de todas as discussões sobre o projeto, o grande tema da mídia e dos movimentos sociais foi a greve de fome do Bispo Dom Luiz Cappio. CNBB, MST, ecologistas, partidos de esquerda e de direita saíram no socorro de Dom Luiz. Não é a primeira vez que ele faz uma greve de fome contra o projeto. Da primeira vez ele recebeu o apoio de ACM e do Governador do Sergipe João Alves, chefe do PFL local. Bernardo Kucinski escreveu num artigo para a Agência Carta Maior
que é difícil encontrar uma explicação para a segunda greve de fome de Dom Luiz. "Na primeira greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco, ele ainda falava em negociação. Agora não propõe negociar nada. Exige que o Exército abandone o canteiro de obras e o projeto seja arquivado.", escreve Bernardo. Ele aponta também que os problemas enfrentados pelo São Francisco são comuns em outros rios que foram atacados pelo desmatamento, açoreamento dos leitos e poluição, "A diferença é que o Rio São Francisco ganhou um projeto que, com a transposição de uma pequena fração de suas águas, poderá transformar o cenário de toda uma região, hoje miserável.", escreve.

O Le Monde Diplomatique, edição brasileira, também entrou na polêmica. Com dois artigos, um escrito pelo teólogo Leonardo Boff e outro pelo filósofo e professor da UERJ Rodrigo Guéron, travam um série de argumentos sobre as ações do Bispo Dom Luiz e sobre o projeto de transposição. Estranhamento o texto de Leonardo Boff é recheados de lugares comum, palavras de efeito cristãs e muito poucos argumentos sólidos.

É de estranhar que um elaborador tão qualificado quanto Leonardo Boff só tenha conseguido argumentos tão fracos. Em um trecho Leonardo Boff lança Dom Luiz para a canonização: "O amor ao próximo e ao sofredor é a regra de ouro, a suprema norma da conduta verdadeiramente humana — porque abre desinteressadamente o ser humano ao outro, a ponto de dar a própria vida para que ele também tenha vida, como o está fazendo o bispo Dom Cappio, figura de eminente santidade pessoal e de incondicional amor aos deserdados do vale do São Francisco". Só isso?

Em contrapartida Rodrigo Guéron aponta que os apoiadores de Dom Luiz não podem ser chamados de esquerda pois apoiam um dos mais profundos conservadorismos brasileiros. Um esquema que glorifica a fome, sofrimento e a morte. Em outro trecho ele é taxativo: "O ato do bispo é, em primeiro lugar, um culto à fome, ao sofrimento e em última análise à própria morte. O bispo se auto-exalta, e é exaltado, como alguém que seria mais virtuoso que os outros porque sofre e passa fome. Isso o faria uma espécie de portador da verdade. Ou seja, fome e sofrimento seriam uma espécie de passaporte para a bem", sentencia.

Os textos são bem interessantes e fogem bastante da cobertura da grande mídia sobre esse assunto. Uma boa dica de leitura nesse final de ano.

terça-feira, dezembro 11, 2007

Novo filme do Gerbase pode ser visto pela net

Carlos Gerbase é realmente inquieto. Depois de Tolerância e Sal de Prata, Gerbase tinha pressa em fazer mais um longa. Com a idéia de que o cinema brasileiro necessita de mais produções de baixo custo, em suporte digital e que dialoguem com o grande público, Gerbase escreveu um roteiro de abusa da dramaturgia.

Para a Casa de Cinema de Porto Alegre, 3 efes, é mais um momento para provar o potencial do cinema gaúcho. O filme foi a primeira inciativa profissional de vários profissionais formados pelo Curso de Produção Audiovisual da PUC/RS em 2006.

As imagens foram captadas com uma câmera mini-DV Panasonic AGDVX-100 e um kit de luz portátil Arri. O som direto foi gravado em fitas DAT. Toda a montagem da imagem foi realizada em ilha de edição Final Cut Pro. O que Gerbase nos prova é que é possível fazer cinema de qualidade com baixo orçamento.

Outra inovação foi o lançamento. No dia 7 de dezembro ele estava disponível nos cinemas, até aí sem novidades. Entretanto ele também podia ser comprado em DVD, passou na TV Aberta (TV COM), na TV paga (Canal Brasil) e também na internet pelo site do Terra, onde ele está dividido em 5 partes.


O filme

O Filme é baseado na teoria do professor Valadares que a humanidade tem 3 apetites: Fome, Fasma e (F) Sexo (entenderam o F?), daí vem os 3 efes do título. Bom fome e foda se explicam por si mesmo, a Fasma é uma palavra que vem do grego e tem a ver com a vida em sociedade – segundo a definição trazida na abertura do filme, é ‘a representação da realidade’ ou ‘simulacro’ ou ainda ‘signo’


“3 Efes" é uma comédia dramática que aborda as dificuldades – afetivas, financeiras e culturais – enfrentadas por um grupo de personagens que circula em torno de Sissi, uma jovem universitária que sustenta, a duras penas, o pai viúvo e o irmão pequeno.

Nessa situação de dificuldade, Sissi recorre aos conselhos de sua tia, Martina, uma dona-de-casa entediada que, em meio a uma crise no seu casamento com o publicitário Rogério, fica irresistivelmente atraída por William, um simples catador de papel.

Rogério também está em apuros: sua última campanha publicitária deu errado, e agora ele precisa dar um jeito de salvar seu emprego – de qualquer jeito. Assim, sob todas essas pressões do cotidiano, os personagens acabam tomando importantes decisões que vão mudar muita coisa entre eles – e também provocar algumas situações inusitadas.

“3 Efes" constrói uma história com personagens de uma grande cidade brasileira, Porto Alegre, vivendo dilemas éticos comuns a muitas pessoas de qualquer canto do mundo: até onde se pode ir para manter um emprego ameaçado, sustentar uma família na fronteira da fome, ou dar vazão a desejos que a sociedade condena?

Bom vale a pena conferir e não tem desculpa para não assistir e prestigiar um dos grandes diretores gaúchos.
Para finalizar tem uma entrevista bem legal com o Gerbase no blog do Luiz Zanini do Estadão.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Queen disponibiliza música nova gratuitamente

O Queen e Paul Rodgers disponibilizaram para download gratuito em seu site oficial a nova canção "Say It's Not True", como forma de marcar o dia mundial de luta contra a AIDS (1 de Dezembro).

A música foi escrita como homenagem a Nelson Mandela e foi apresentada oficialmente no show de lançamento da campanha
46664, que tem como objetivo combater a disseminação da AIDS no continente africano. O autor da música foi o baterista Roger Taylor que disse em uma entrevista que disponibilizando a canção gratuitamente esperava ajudar a campanha do Nelson Mandela, "ninguém está livre da infecção. Temos de ter cuidado, de nos protegermos e àqueles que amamos. A canção segue na linha da mensagem pessoal do Sr. Mandela: está nas nossas mãos pôr um ponto final nisto", disse o músico.

A música também é uma homenagem a Fred Mercury, vocalista do
Queen, que morreu vítima de AIDS há 16 anos.

O que é o 46664?
O 46664 é uma campanha que busca ser uma resposta da África ao avanço da epidemia de AIDS. O projeto concentra-se na educação de jovens e na arrecadação de fundos que são utilizados unicamente no combate à AIDS.

A campanha recebeu esse nome como uma lembrança ao número que foi designado à Nelson Mandela na prisão. Mandela foi preso em 1964 e ficou 27 anos em
Robben Island, uma prisão na Cidade do Cabo, Africa do Sul. Sua acusação era a luta contra o aphartied. Como os prissioneiros de Robben Island não eram chamados pelo nome, os anos e o tempo de prissão acabaram transformando o número 46664 como sinonimo de Mandela.

Essa era uma das estratégias do regime do aphartied, transformar as pessoas em números. Foi justamente por esse motivo que Mandela resolveu utilizar o seu número como nome da campanha, para lembrar o mundo todo que a AIDS não são apenas estatísticas e sim existem pessoas por trás dos números de infectados e mortos.

Clique aqui para baixar a música. É preciso preencher um formulário com nome, e-mail e país (isso serve para apoiar a campanha)

Para ver o vídeo-clipe clique aqui:

Abaixo a letra da música
Say It's Not True

The harder we play
The faster we fall
When we think that we know it all
We know nothing at all

The letter arrives
Like a bolt from the blue
So what’s left of your lives
All your dreams lost to you

Say it ain’t true
Say it today
When I open my eyes
Will it all go away

Say it’s not true
Say it for real
Can’t be happenin’ to you
Can’t be happenin’ to me

It’s hard not to cry
It’s hard to believe
So much heartache and pain
So much reason to grieve

With the wonders of science
And all the knowledge we’ve stored
Magic cocktails for lives
People just can’t afford

You can say it’s not true
You can say it’s not right
So hard to believe
The size of the crime

Say it’s not true
Say it’s not real
Can’t be happenin’ to you
Can’t be happenin’ to me