Mas não é sobre o filme que eu quero falar (talvez outro dia). O assunto mesmo é sobre o resultado das pesquisas do grupo liderado pelo pesquisador J. Craig Venter. Na quinta feira passada, 20/05, os pesquisadores anunciaram que conseguiram fazer uma célula controlado por um genoma sintético. Genoma é toda a informação, armazenada na célula de um ser vivo, que possui a "receita" de como fazer esse ser vivo. O grupo sintetizou um genoma da bactéria Mycoplasma mycoides e inseriu ele na casca da Mycoplasma capricolum, outra bactéria. Ao final da experiência a bactéria reproduziu-se como se fosse a primeira (com o genoma sintetizado) ao invés da segunda (hospedeiro). Deve ter sido uma legitima sensação "eu criei vida", só não havia nenhum Igor para puxar a alavanca. No lugar dele havia uma equipe de 20 pesquisadores, US$ 40 milhões gastos em 10 anos de pesquisa.
O genoma é composto por pares de moléculas denominados: a,t,g,c. A combinação delas diz como será um ser vivo. Não importa se for uma bactéria ou uma baleia. Todos os seres vivos são compostos por esses pares de moléculas. Os pesquisadores do Instituto J. Graig Venter passaram toda essa sequência genética da Mycoplasma mycoides, mais de 1 milhão de pares de DNA, depois modificaram alguns pares para fazer uma "marca de nascença", que a difere da que foi criada pela natureza e sintetizaram, artificialmente, esse genoma. Ao colocar essa genoma dentro de outra célula (que teve seu código genético retirado) essa segunda célula começou a se duplicar igualzinho ao que tinha sido previsto pelo programa de computador. Isso aconteceu naturalmente, dando apenas alimento e um meio favorável para se reproduzir, ou seja, sem nenhuma outra força invisível que lhe desse vida.
Foi vida artificial?
A vida não foi criada do nada, isso é verdade. A experiência duplicou um genoma que já existia e o modificou. Mas isso provou que: (1) o código genético de um ser vivo pode ser copiado e modificado e (2) que um organismo vivo não precisa de nenhuma força extranatural para existir. Nesse ponto as religiões já tremeram nas bases. Toda a sua necessidade de existência baseia-se unicamente na crença de que existe um ser, ou força, superior que tem a capacidade de dar e tirar a vida. O que provaram os cientistas que realizaram essa experiência é que isso não é verdade. A vida, para existir, precisa apenas de sua codificação genética e de um meio propício para se reproduzir e se alimentar. Ainda há uma grande distância entre o que foi realizado nessa experiência e sintetizar vida partindo do zero. Mas esse passo já foi imensamente grande nesse sentido. A pergunta que se faz agora é se devemos ou se há interesse em criar vida? Do ponto de vista industrial e econômico, que é o interesse dos pesquisadores, é muito mais simples, e barato, inserir características novas em um ser já existente. Nesse ponto cogita-se bactérias com capacidade de separar o hidrogênio das moléculas de água o que tornaria os carros movidos a hidrogênio extremamente baratos. Também tem a possibilidade de modificar uma bactéria para ela trabalhar na despoluição, entre outros usos. Há ainda, claro, o medo que se criem armas biológicas ou uma superdoença. Por isso a necessidade de discussões sobre o que é ético ou não é ético de fazer.
Quem é Graig Venter?
Veterano da Guerra do Vietnã, Venter se formou em Bioquímica em 1972, doutorou-se em Farmacologia em 1975 e foi trabalhar no Instituto Nacional de Saúde em 1984. Em 1999 resolveu investir em seu próprio Projeto Genoma Humano. Graig Venter não é nenhum bom samaritano. O que é quer é dinheiro mesmo. Pesquisadores do mundo inteiram o acusam de estar monopolizando a tecnologia de biologia sintética o que faria com que ele fosse "dono" dos organismos criados por essa tecnologia. Entre outros feitos de Venter está o mapeamento do Genoma Humano, 3 anos antes do prazo previsto. Entre os contratos milionários que ele fechou está um com a Exxon, empresa pretroleira, que investiu US$ 600 milhões em uma pesquisa que poderia converter o CO2 da atmosfera em combustível. Em 2007 o pesquisador deu o primeiro passo na descoberta que aconteceria na semana passada ao divulgar que havia conseguido criar um cromossoma a partir de elementos químicos.
Não sei quanto a você que está lendo essa postagem, mas nem o Dr. Frankenstein teria feito melhor e não precisou de descargas elétricas, nem tempestades e nem de um Igor para puxar a alavanca.
[Imagem: Etapas do experimento foram detalhadas em artigo publicado pela 'Science']