segunda-feira, janeiro 24, 2011

Atenção você foi enganado, de novo

Raul Seixas deve ter pronunciado uma das frases mais célebres e verdadeiras da história do Brasil e ela é o resumo da grande mídia hoje. O roqueiro disse na música "Cowboy fora da lei":

-- Eu não preciso ler jornais, mentir sozinho eu sou capaz.

Esse parece ser o lema da velha mídia brasileira. Que a mídia não é imparcial isso todo mundo já deveria saber, mas pelo menos uma coisa ela deveria preservar: a objetividade.

Entretanto no desespero para criar um 3º turno das eleições presidenciais, os "veículos de comunicação". Mais um elemento dessa disputa foi uma petição posta em votação e aprovada no Parlamento Europeu no último dia 20 de janeiro, que pedia que o governo brasileiro reconsiderasse a não extradição de Cesare Battisti para a Itália . O primeiro meio de comunicação brasileiro a noticiar isso foi o Estadão na sua página da internet. A matéria é muito semelhante aquela feita pela AFP, com a diferença que o Estadão retirou a informação dos grupos que votaram contra, ou seja, os verdes e os comunistas. A partir daí os outros veículos copiaram a informação do próprio Estadão ou da AFP. E noticiaram com grande destaque que a petição foi aprovada por 83 votos a favor, 1 contra e duas abstenções.

O que nenhum veículo de comunicação falou é que o Parlamento Europeu é composto por 736 membros, ou seja, somente 11%, a maioria parlamentares italianos, estavam presentes para votar a petição.

Abaixo a composição do parlamento

Fonte: http://www.europarl.europa.eu/members/expert/groupAndCountry.do?language=PT

O que mais me choca é que a imprensa brasileira não está nem aí para a verdade. Eles querem vender cada vez mais a "sua verdade" independente dos fatos. Onde fica a verificação das informações? Até mesmo o Pioneiro, de Caxias do Sul, noticiou isso, sem verificar os fatos. Hoje estamos envoltos em um jornalismo do "copiar" e "colar". Duas ou três empresas de comunicação nacionais geram conteúdo e todos os outros veículos copiam. Isso é lamentável sobre qualquer ponto de vista.

E onde fica a verdade? Sobra somente a mídia digital mostrar o outro lado da informação. É por esse motivo que a internet tem sofrido, por parte da direita brasileira, diversos ataques a sua liberdade, como é caso do AI5 digital do Senador Azeredo do PSDB.

domingo, janeiro 16, 2011

A exploração da tragédia: o caso Huck

Encontrei a postagem abaixo o blog do Nassif e achei fundamental reproduzir. Não que o meu blog tenha mais audiência que o dele, mas é fundamental que mais e mais lugares publiquem isso para que a informação se espalhe o máximo possível.

A Globo é campeã em se aproveitar de tragédias. Na verdade ela se alimenta da desgraça humana, apenas de não ser a única. Agora mesmo, enquanto eu escrevo isso, o Fantástico faz reportagens e mais reportagens sobre os acontecimentos no Rio de Janeiro.

A postagem orginal está aqui:


A marota forma de ajuda de Luciano Huck

Sinceramente, não sei o que pensar sobre isso. Peço ajuda.

Luciano Huck é sócio do Peixe Urbano, um site de compras coletivas. Em dezembro último, o apresentador da Globo usou o Twitter para tentar bater o recorde de vendas de cupons no site:

"O apresentador Luciano Huck – agora sócio do site de compras coletivas Peixe Urbano - usou pela primeira vez o Twitter para impulsionar a venda de cupons de desconto – e quase conseguiu o que queria: superar o recorde de vendas do site."

http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/12/08/luciano-huck-ja-usa-o-twitter-para-vender-seu-peixe/

Ontem, ele postou esta mensagem no Twitter:

Luciano Huck "Quer ajudar, e muito, as vítimas da serra carioca [sic]. Via @PeixeUrbano, vc compra um cupom e a doação esta feita.

A compra dos cupons, segundo o site, reverterá em benefício de duas ONGs que estão ajudando as vítimas das enchentes.

Parece bonito, mas não é.

Primeiro, é necessário ir ao site do negócio de Luciano.

Depois, é preciso se cadastrar no site.

E então comprar um ou mais cupons de R$10,00.

Ganha Luciano porque divulga o seu negócio (mais de 7.000 RTs até agora), cadastra milhares de novos usuários em todo o Brasil, familiariza esses usuários com os procedimentos do site, incentiva o retorno e aumenta absurdamente o número de cupons vendidos – alavancando o Peixe Urbano comercial, financeira e mercadologicamente.

Além do ganho de imagem por estar fazendo um serviço público (li vários elogios nos RTs). Sabe-se lá como será contabilizado ou fiscalizado o total recebido como doação e repassado para as duas organizações parceiras.

O usuário não tem nem terá acesso a esses dados internos. Supondo que todo o montante arrecadado chegue às vítimas, se for mesmo o que estou entendendo, trata-se da mais sórdida exploração da desgraça alheia que já presenciei em toda a minha vida.

As pessoas que estão doando seu dinheiro, seus produtos, seu tempo, suas habilidades e sua atenção aos desabrigados e às vítimas não estão pedindo nada por isso, não estão ganhando nada com seu gesto de solidariedade, não estão usando essa tragédia para obter nenhuma forma de lucro pessoal. Fazem o bem porque são humanas, ficaram chocadas com as imagens e as informações, se sensibilizaram com o sofrimento alheio. Ajudam por solidariedade, empatia e até por desespero. E a maioria delas não tem quase nada na vida, em comparação com o apresentador da Globo.

De todas as iniciativas já divulgadas até o momento, só a de Luciano Huck visa primeiramente ao lucro pessoal, para depois, secundariamente, resultar numa ajuda social. Quando um tsunami matou 200 mil pessoas no sudeste da Ásia, em 2004, recebi um e-mail de um escritor inglês pouco conhecido, no qual se fazia a oferta: "Compre um dos meus livros, e eu doarei 30% do valor para as vítimas da tragédia". Saí da lista do explorador barato na hora, mas a favor dele contava o número reduzido de destinatários da mensagem.

Luciano Huck tem 2.600.000 seguidores no Twitter: é este o público-alvo do seu apelo interesseiro. Pode não bater o recorde de cupons, desta vez, mas temo que tenha batido o recorde da safadeza. Aceito argumentos que me provem o equívoco dessa suspeita.

Depois dos R$24 milhões entregues pelo Estado à Fundação Roberto Marinho, dinheiro originalmente destinado à contenção de encostas e às obras de drenagem, mais esta. Turma da Globo, vocês pensam que estão apenas lucrando com as águas, mas na verdade podem estar brincando com fogo.

sábado, janeiro 15, 2011

Mais um fascista na lata de lixo

Defender a ideologia da RBS não é fácil. Há 12 anos (4 do Olívio e 8 do Lula), você tem que ser cotidianamente contra tudo que acontece de bom no Estado e depois do país. Ainda por cima tem que ficar a favor das privatizações e cortes de investimentos públicos do FHC, o governo sem sal do Rigotto e as roubalheiras da Yeda.

Esse é o preço que se paga por defender a ideologia atrasada do neoliberalismo. Mas a RBS é uma empresa e como tal precisa de um rosto para defender esses interesses. Aí é que aparecem pessoas, que a falta de escrupulos e o excesso de dinheiro que recebem, para cumprir esse papel. As vezes eles não conseguem se conter na bizarrice e tem que ser descartados. Afinal a empresa é mais importante. Isso aconteceu com o Mendeslki e com o Barrinuevo. A bola da vez, desse ano, é o "jornalista" Luiz Carlos Prates".

Luiz Carlos Prates era comentarista do jornal televisino da RBS Santa Catarina. Entre uma de suas última "pérolas" foi dizer que o governo Lula e os “miseráveis” são responsáveis pelo aumento do número de acidentes nas estradas. “Este governo espúrio permitiu que qualquer miserável tivesse um carro”. Em outro, defendeu a ditadura militar e negou que tenha ocorrido censura e repressão no Brasil no período dos militares. Para Prates, desde o fim da ditadura, “o Brasil andou para trás” e “a imoralidade tomou conta de todos os nós”.

O "jornalista" Luiz Carlos Prates, que é psicólogo, está deixando o Grupo RBS, após uma “decisão conjunta com a empresa”. Segundo nota divulgada pela RBS, Luiz Carlos Prates deixará de trabalhar nos veículos da empresa para “seguir com projetos pessoais”. Ele era comentarista da RBS TV em Santa Catarina e colunista do jornal Diário Catarinense, onde, segundo a empresa, conquistou “incontáveis” admiradores.

Até agora não se sabe quem são os incontáveis admiradores dele. Por enquanto só um, de caráter duvidoso, manifestou-see é o nada democrático Políbio Braga. Como se vê, nesse caso, os iguais se atraem.



Fonte: RS Urgente

O céu é o limite?

Para a Google parece que não.

Em agosto de 2010, um grupo de estudantes da Nasa e funcionários do Google se uniram para realizar uma louca experiência que tinha como objetivo lançar um Nexus One no espaço através de um mini-foguete.

As equipes planejavam descobrir se os celulares com Android poderiam funcionar e operar como satélites de baixo custo, mesmo em ambiente de vácuo e temperaturas extremas, com altas e baixas repentinamente.

Para ter certeza do resultado, o grupo lançou dois dispositivos, mas apenas um sobreviveu à experiência. O primeiro celular caiu no chão devido a uma falha em seu pára-quedas. No telefone que conseguiu voltar ileso, haviam duas horas e meia de vídeo, que pode ser assistido no YouTube.

Os resultados, que poderiam a tornar os satélites menores (hoje são praticamente do tamanho de um ônibus), também viabilizaria a possibilidade para que cientistas amadores pudessem lançar seus próprios satélites no espaço.

O Google queria mais!

A experiência bem sucedida com a Nasa incentivou a gigante de Mountain View a explorar novamente a atmosfera terrestre com o Google Nexus S.

Utilizando desta vez um balão de grande altitude, câmeras de vídeo e um celular, o Google expandiu seus estudos ao coletar dados através dos sensores do Nexus S, como GPS, giroscópio, acelerômetro e magnetómetro.

O telefone também estava equipado com uma variedade de aplicações, incluindo o Google Maps for Mobile 5.0 (com mapas offline), o Google Sky Map, Latitude e um App personalizado para registro de todos os sensores no dispositivo.

Outra novidade, como você pode ver a imagem que ilustra este post, estava a presença especial de um astronauta bem familiar: o mini Android verde da coleção .

Resultado

Os resultados foram interessante: o balão chegou a 107.375 pés, mais de 20 quilômetros de altura, mais de três vezes a altura de voo de um jato comercial médio.

"Observamos que o GPS do Nexus S é capaz de funcionar até altitudes de cerca de 60.000 pés e voltou a funcionar na descida do balão. Vimos também que Nexus S pode suportar algumas temperaturas muito extremas como -50˚C." disse a empresa.

Outros dados interessantes que foram coletados:

Velocidade Máxima: 139 mph
Altitude Máxima: 107.375 pés (mais de 30 km)
Taxa máxima de subida: 5,44 m/s
Média Duração do Voo: 2 horas e 40 minutos
Média Tempo de Descida: 34 minutos




Veja também todo o processo de montagem e lançamento:



Uma galeria de fotos no Picasa demonstra algumas das belas imagens capturadas e os dados coletados no estudo.

Publicado originalmente em Google Discovery

sexta-feira, janeiro 07, 2011

O caso Battisti

Reproduzo abaixo o artigo do Juremir Machado que foi publicado originalmente na edição de quarta feira (05/01) do Correio do Povo. É uma análise bastante interessante sobre o caso Battisti. O autor desmonta os argumentos de que o PIG (Partido da Imprensa Golpista) estaria interessado em garantir a prisão de um condenado. Só para lembrar ninguém comenta, por exemplo que ele foi exilado na França durante todo o governo Mitterand. Mais uma vez a velha mídia não estão interessadas no bem de ninguém e sim, simplesmente, instituem-se como representantes das eleites, atrasadas diga-se de passagem, do Brasil. Vale a pena, também, a leitura do verbete "Cesare Battisti" que está na Wikipédia. Lá tem uma descrição muito detalhada e precisa sobre a vida dele e sobre o julgamento.

O caso Battisti

Juremir Machado da Silva

A polêmica envolvendo a extradição de Cesare Battisti se resume o velho refrão: antipetismo e antiesquerdismo. Battisti foi condenado à revelia, sem qualquer prova técnica ou pericial, exclusivamente com base nos depoimentos de uma testemunha interesseira, Pietro Mutti, envolvido nos fatos, que o acusou para ser beneficiado pelos mecanismos da delação premiada. Battisti viveu anos livre na França, durante os governos de François Mitterrand, onde trabalhou, casou-se e teve duas filhas. A Itália não se revoltou contra essa situação nem usou o tom agressivo que dedicou ao Brasil. Quando a direita chegou ao poder na França, reviu o refúgio concedido a ele pelos socialistas. Battisti acabou fugindo para o Brasil. Síntese da ópera: em qualquer lugar, a esquerda dá asilo a quem foi condenado por crimes políticos em defesa de utopias de esquerda. A direita faz o mesmo com os seus. A França de esquerda protegeu Battisti. Já a França de direita, o perseguiu.

O governo italiano atual, de direita, quer trancafiá-lo. Vai oferecer-lhe um novo julgamento? Não. Os críticos de Tarso Genro dizem que, por ideologia, ele entregou os atletas cubanos e, por ideologia, teria decidido não entregar Battisti. Esses mesmos críticos, por ideologia, entregariam Battisti e, por ideologia, não entregariam os cubanos. Tarso Genro afirma que os cubanos não queriam ficar. Outra leitura é possível: o governo brasileiro errou no caso dos cubanos e está acertando no caso do Battisti. Alguns dizem que é preciso pensar nas vítimas. Nunca os vejo manifestar preocupação, por exemplo, com as vítimas do terrorismo de Estado de Israel. Não me venham com a conversa do antissemitismo. Israel tem todo o direito de existir e defender-se, mas não tem o direito de extrapolar na forma da sua defesa, nem de manter os palestinos numa prisão a céu aberto.

Battisti é defendido na França até por intelectuais não esquerdistas como Bernard-Henri Lévy, que conhece o processo como poucos. A direita gaúcha sonha em repetir com Tarso Genro o que fez com Olívio Dutra. A direita brasileira sonha que Dilma Rousseff adote posturas mais à esquerda para poder acusá-la de esquerdismo, chavismo, intransigência, fundamentalismos e outros clichês típicos do radicalismo e da intransigência xiita da direita que a caracterizaram quando tinha o "monopólio da fala" na mídia. A grande arte de Lula foi não ter dado espaço para a aplicação desses rótulos fáceis. A direita é astuta. Condenava o PT por não fazer alianças. Depois, passou a condená-lo por fazer alianças. Battisti é um inocente útil no desejo ideológico de alguns de atingir o petismo.

Organismos internacionais de Direitos Humanos cobram do Brasil atitudes em relação aos crimes da ditadura militar. Não vejo os defensores da extradição de Battisti clamando pela punição dos torturadores do regime de 1964 que passeiam pelas nossas ruas. O Supremo Tribunal Federal nada mais tem a dizer no caso Battisti. Já votou e entregou a decisão final ao presidente Lula. Cabe-lhe agora emitir o alvará de soltura e ir trabalhar mais.

Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br

Fonte: Site Jornal Correio do Povo

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Os números da Globo: lenta decadência

Reproduzo artigo de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:

Altamiro Borges, aqui, e Paulo Henrique Amorim, aqui, destacam fatos que demonstram a decadência da TV Globo.

O texto de Miro mostra que o Faustão – em crise de audiência (e de faturamento?) – demitiu a banda de músicos. E que o “Fantástico” enfrenta a pior crise de sua longa história. O Paulo Henrique relata como a audiência do “JN” encolheu em dez anos: o jornal apresentado por Bonner perdeu um de cada quatro telespectadores de 2000 para 2010 – são números oficiais do IBOPE.

São fatos. Não é bom brigar com eles. Mas é bom analisar esse proceso com cautela.

Quando entrei na TV Globo, em 95, o “JN” dava quase 50 pontos de audiência. Era massacrante. O “Globo Repórter” dava perto de 40 pontos.

Em 2005/2006, quando eu estava prestes a sair da emissora, o “JN” já tinha caído pra casa dos 36 ou 37 pontos (havia dias em que o jornal local conseguia mais audiência do que o principal jornal da casa) e o “Globo Repórter” se segurava em torno de 30 ou 32 pontos (programa que desse menos de 30 abria crise, era preciso sustentar a marca dos 30).

Esse tempo ficou pra trás. O “JN” já caiu pra menos de 30 pontos. E o Globo Repórter hoje patina em 24 ou 25 – dizem-me.

O “Jornal da Record” dobrou de audiência. Em São Paulo chega a 10 pontos, em outros Estados passa dos 12 ou 13. Nas manhãs, a Globo e a Record (com o SBT um pouco atrás) brigam pau a pau. E a Record vence em muitos horários matutinos, há meses. Aos domingos, a Globo também sofre. A grande jóia da coroa da emissora carioca é o horário nobre durante a semana: novelas+JN. Nesse caso, os números revelam que o domínio da Globo se reduz, ainda que de forma lenta.

Muita gente espera o dia em que a Globo vai passar por uma hecatombe e deixará de ser a Globo. Acredito que isso não vai acontecer: a queda será lenta, negociada, chorada…

A Globo poderia ter quebrado ali pelo ano 2000. No primeiro governo FHC, Marluce (então diretora geral) tivera duas idéias “brilhantes”: tomar dinheiro emprestado, em dólar, para capitalizar a empresa de TV a cabo do grupo; e centralizar as operações numa “holding”. Ela acreditou nas previsões do Gustavo Franco e da Miriam Leitão, de que o Real valeria um dólar para todo o sempre! Passada a reeleição de FHC, em 98, o Brasil quebrou, veio a crise cambial e a Globo ficou pendurada numa dívida em dólar que (de uma semana pra outra) triplicou.

A dívida era da TV a cabo mas, como Marluce e os geniais irmãos Marinho tinham centralizado as operações na holding, contaminou todo o grupo. A Globo entrou em “default”. Quebrou tecnicamente. Poderia ter virado uma Varig. Mas conseguiu (sabe-se lá com quais acordos e pressões políticas) equalizar a dívida.

Quando saiu da crise, em meados do primeiro mandato de Lula, a Globo (o jornalismo) estava já sob os auspícios de Ali Kamel – o Ratzinger. Ele conduziu a empresa para a direita: contra as cotas nas universidades, contras as políticas de combate ao racismo (“Não somos racistas”, diz), contra o Bolsa-Família. O grande público não percebe isso de forma racional. Mas (mesmo que de forma despolitizada) sente que a Globo ficou contra todos os avanços sociais dos últimos 8 anos. Lentamente, foi-se criando uma antipatia no público. Ouve-se por aí: a Globo não fica do lado do povão.

Não é à toa que um fenômeno novo surge nas grandes cidades, como São Paulo. Nas padarias, restaurantes populares, pontos de táxi, era comum ver televisores ligados sempre na Globo. Isso há 7 ou 8 anos. Acabou. De manhã, especialmente, a programação da Record e do SBT (e às vezes também dos canais a cabo) entra nas padarias, ocupa os lugares públicos.

Essa é uma mudança simbólica.

Mas é bom não brigar com outro fato: boa parte do público segue a ter admiração e carinho pela progamação da Globo. E há motivos pra isso, entre eles a qualidade técnica. A iluminação, a textura da imagem, o cuidado com o bom acabamento. Tudo isso a Globo conseguiu manter – apesar de muitos tropeços aqui e ali.

Fora isso, apesar de toda crítica que façamos (e eu aqui faço muito) ao jornalismo global, é bom não esquecer que na TV da família Marinho há sim ótimos profissionais, gente séria que tenta (e muitas vezes consegue) fazer bom jornalismo.

Esse capital – qualidade técnica – a turma do Jardim Botânico tem conseguido manter. O que não ajuda: a política editorial, adotada por exemplo durante a posse de Dilma. Ironias desmedidas, falta de compreensão do momento histórico e uma arrogância de quem se acha no direito de “ensinar” como Dilma deve governar. A seguir nessa toada, a decadência será mais rápida…

E o que mais pode entornar o caldo por lá? Grana.

A Globo tem custos altíssimos de produção. Quem conhece de perto o Projac diz que aquilo é uma fábrica de boas novelas e minisséries, mas também uma fábrica de desperdício. Empresa familiar, que cresceu demais. Cada naco dominado por um diretor, como se fosse um feudo. Até hoje a Globo conseguiu manter essa estrutura porque ficava com uma porção gigante das verbas públicas de publicidade (isso mudou com Lula/Franklin) e com uma porção enorme da publicidade privada: o BV – bônus em que a agência é “premiada” pela Globo se concentrar seus anúncios na emissora – explica em parte essa “mágica”; outra explicação é que a Globo detem (detinha!?) de fato fatia avassaladora da audiência.

Com menos audiência, as agências (ou as empresas anunciantes, através das agências) podem pressionar para que o valor dos anúncios caia. Se isso acontecer, a Globo vai virar um elefante branco. Impossível manter aquela estrutura verticalizada se a grana encurtar.

Qual o limite que a Globo suporta? Difícil saber. Mas a dispensa da banda do Faustão é um indicador de que a água pode estar subindo rápido.

Outro problema sério: o risco de perder a transmissão do futebol, ou de ter que pagar caro demais para mantê-lo.

Tudo isso está no horizonte. E mais: a entrada das teles no jogo. O Grupo Telefônica, por exemplo, fatura dez vezes mais que a Globo. Como concorrer? Só com regulação do mercado, assegurando nacos para os proprietários nacionais.

Ou seja: a Globo – que é contra a regulamentação (“censura”, eles bradam) por princípio – vai ter que pedir água, vai ter que negociar alguma regulação pra conter os estrangeiros. E aí pode entrar também a regulação que interessa à sociedade: critérios para concessões, e também para evitar o lixo eletrônico e os abusos generalizados na TV. Regulação, como em qualquer país civilizado. Até aqui a Globo tentou barrar esse debate. Mas vai ter que aceitá-lo agora, porque ficou mais frágil.

De minha parte, não torço pra que aconteça nenhuma “hecatombe”, nem que a Globo quebre. Mas para que fique menos forte, e que o mercado se divida.

Parece que é isso que está pra acontecer. Seria saudável para o Brasil.