domingo, janeiro 16, 2011

A exploração da tragédia: o caso Huck

Encontrei a postagem abaixo o blog do Nassif e achei fundamental reproduzir. Não que o meu blog tenha mais audiência que o dele, mas é fundamental que mais e mais lugares publiquem isso para que a informação se espalhe o máximo possível.

A Globo é campeã em se aproveitar de tragédias. Na verdade ela se alimenta da desgraça humana, apenas de não ser a única. Agora mesmo, enquanto eu escrevo isso, o Fantástico faz reportagens e mais reportagens sobre os acontecimentos no Rio de Janeiro.

A postagem orginal está aqui:


A marota forma de ajuda de Luciano Huck

Sinceramente, não sei o que pensar sobre isso. Peço ajuda.

Luciano Huck é sócio do Peixe Urbano, um site de compras coletivas. Em dezembro último, o apresentador da Globo usou o Twitter para tentar bater o recorde de vendas de cupons no site:

"O apresentador Luciano Huck – agora sócio do site de compras coletivas Peixe Urbano - usou pela primeira vez o Twitter para impulsionar a venda de cupons de desconto – e quase conseguiu o que queria: superar o recorde de vendas do site."

http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/12/08/luciano-huck-ja-usa-o-twitter-para-vender-seu-peixe/

Ontem, ele postou esta mensagem no Twitter:

Luciano Huck "Quer ajudar, e muito, as vítimas da serra carioca [sic]. Via @PeixeUrbano, vc compra um cupom e a doação esta feita.

A compra dos cupons, segundo o site, reverterá em benefício de duas ONGs que estão ajudando as vítimas das enchentes.

Parece bonito, mas não é.

Primeiro, é necessário ir ao site do negócio de Luciano.

Depois, é preciso se cadastrar no site.

E então comprar um ou mais cupons de R$10,00.

Ganha Luciano porque divulga o seu negócio (mais de 7.000 RTs até agora), cadastra milhares de novos usuários em todo o Brasil, familiariza esses usuários com os procedimentos do site, incentiva o retorno e aumenta absurdamente o número de cupons vendidos – alavancando o Peixe Urbano comercial, financeira e mercadologicamente.

Além do ganho de imagem por estar fazendo um serviço público (li vários elogios nos RTs). Sabe-se lá como será contabilizado ou fiscalizado o total recebido como doação e repassado para as duas organizações parceiras.

O usuário não tem nem terá acesso a esses dados internos. Supondo que todo o montante arrecadado chegue às vítimas, se for mesmo o que estou entendendo, trata-se da mais sórdida exploração da desgraça alheia que já presenciei em toda a minha vida.

As pessoas que estão doando seu dinheiro, seus produtos, seu tempo, suas habilidades e sua atenção aos desabrigados e às vítimas não estão pedindo nada por isso, não estão ganhando nada com seu gesto de solidariedade, não estão usando essa tragédia para obter nenhuma forma de lucro pessoal. Fazem o bem porque são humanas, ficaram chocadas com as imagens e as informações, se sensibilizaram com o sofrimento alheio. Ajudam por solidariedade, empatia e até por desespero. E a maioria delas não tem quase nada na vida, em comparação com o apresentador da Globo.

De todas as iniciativas já divulgadas até o momento, só a de Luciano Huck visa primeiramente ao lucro pessoal, para depois, secundariamente, resultar numa ajuda social. Quando um tsunami matou 200 mil pessoas no sudeste da Ásia, em 2004, recebi um e-mail de um escritor inglês pouco conhecido, no qual se fazia a oferta: "Compre um dos meus livros, e eu doarei 30% do valor para as vítimas da tragédia". Saí da lista do explorador barato na hora, mas a favor dele contava o número reduzido de destinatários da mensagem.

Luciano Huck tem 2.600.000 seguidores no Twitter: é este o público-alvo do seu apelo interesseiro. Pode não bater o recorde de cupons, desta vez, mas temo que tenha batido o recorde da safadeza. Aceito argumentos que me provem o equívoco dessa suspeita.

Depois dos R$24 milhões entregues pelo Estado à Fundação Roberto Marinho, dinheiro originalmente destinado à contenção de encostas e às obras de drenagem, mais esta. Turma da Globo, vocês pensam que estão apenas lucrando com as águas, mas na verdade podem estar brincando com fogo.

3 comentários:

Keytiane disse...

Para quem esta precisando o que importa é a doação.Se o seu blog e do Nassif pedissem doações no lugar de atacar a Globo, talvez as vitimas tivessem ao menos água para beber.Vc fala, fala, mal da Globo e esquece que todos os brasileiros estão sintonizados nas emissoras de TV;seja Globo,do governo, Record, SBT ou outras para saber informações.
Como sou filha e irmã de vitimas e estou longe, foi graças a uma reportagem que descobri minha familia viva, agradeço aos incansáveis reporteres que buscam as informações e nos traz.Já que com tanto trabalho bombeiros e Defesa Civil não tem condições de fornecer estas noticias.
Antes de atacar, pense naqueles que como meu irmão e meu pai, não possuem nada nem um cartão telefônico e braços p/um telefonema.Minha cunhada foi resgata com vida e salva com seu bebê graças a uma equipe de reportagem.Afinal do que vc pode reclamar? De estar no conforto do seu lar enfrente ao computador com pernas e braços perfeitos?Quanto ao Nassif se usasse 50% do que ganha do governo federal p/falar bem, já ajudaria muito as vitimas.

Unknown disse...

Se você leu bem o texto percebe que ele faz uma crítica pesada a ideia de fazer propaganda com a tragédia. E ele é bem claro quando diz que há centenas, talvez milhares, de pessoas trabalhando de forma anônima e sem pensar em ganhar nada em troca.

Podemos citar os bombeiros, policiais, médicos, enfermeiras, pessoas que estão fazendo doação de sangue, de alimentos, de água potável e por aí vai.

Outra coisa que você pode não ter entendido é que se fala do uso da tragédia para ganhar audiência e, consequentemente, dinheiro (de onde você acha que vem o lucro das emissoras de TV). Então duvide da generosidade de quem acha que sempre o ruim é boa notícia.

Aqui no RS não estamos enfrentando enchetes, mas uma seca terrível, principalmente na fronteira oeste e sul. Ela está sendo pior onde o governo não investiu na construção de açudes. A mesma coisa aconteceu aí no Rio. Ao invés de 24 milhões, que eram para ser investidos em contenção de enconstas, eles foram doados para a Fundação Roberto Marinho.

A verdade tem que ser dita e a verdade é que a vítimas não são as culpadas como os meios de comunicação estão dizendo.

Marcelo Santiago disse...

Concordo muito com o que a Keytiane escreveu; o problema é apenas criticar e não apresentar soluções, fazer algum tipo de mobilização, arranjar soluções que possam ajudar. Criticar é fácil!
E não concordo com o Masotti quando generaliza com relação a imprenssa. Lógico, sempre vão existir os chacais que se aproveitam das tragédias p/ aparecer, mas tem muita gente séria trabalhando e ajudando; prestando um verdadeiro serviço p/ a população. Isso em todos os meios de comunicação! Não concordo também quando diz que os meios de comunicações colocam as vítimas como culpadas! Não lembro de ter visto ninguém falar isso, pelo contrário, todos são unânimes (e concordo plenamente) em apontar os poderes públicos federal, estadual e municipais, como responsáveis pelas tragédias. Como sempre não fazem o que prometem, não investem o que prometem ou não dão o destino adequado as verbas (caso dos 24 milhões), quando estas aparecem. O governo federal não destinou as verbas necessárias, o estadual não pediu e também não disponibilizou e os municipais não previram, não planejaram e não investiram, nem solicitaram investimentos. Parece que tragédias como as que aconteceram em Petrópolis (se não me engano, na década de 80), em Angra dos Reis e Morro do Bumba ano passado e estas das regiões Serranas, nunca servirão (infelizmente) de lições p/ os poderes públicos. Até quando vamos ser obrigados a ver esse tipo de coisa?