segunda-feira, junho 25, 2007

O início da era Pauletti

Por uma dessas coincidências da vida o início do meu contato com o DCE acontece com a eleição do Ruy Pauletti como Reitor da UCS.

Em 1990 eu era um dirigente estudantil da UCES, União Caxiense de Estudantes Secundaristas. A presidente do DCE era a Patricia Pessi. Em janeiro de 1990 o DCE e a UCES fizeram uma atividades em conjunto, que tinha como objetivo colocar na lei orgânica do município a obrigatoriedade dos estudantes poderem comprar 75 fichas com o valor de ½ passagem. Tá certo que não era uma proposta muito revolucionária, mas foi a única emenda popular que foi aprovada pela Câmara de Vereadores na reforma da Lei Orgânica. A partir desse momento comecei a participar e discutir o movimento estudantil universitário.

A eleição do Pauletti
Naquele ano o foco do DCE estava voltado para outra coisa. Em abril seriam as eleições para Reitor. João Luis Moraes, o Reitor da época, havia se comprometido em realizar um processo de consulta à comunidade para a escolha de seu sucessor. O Reitor era, e ainda é, escolhido pelo Conselho Diretor, mas havia um movimento muito forte para mudar essa realidade. Com a possibilidade de, pelo menos, uma consulta o movimento estudantil se articulou em torno do nome da Profª. Loraine Slomp Giron. Infelizmente o movimento foi traído pela Reitoria e a consulta foi cancelada na véspera da sua realização. Como resposta o DCE organizou uma grande coleta de cartas de reivindicações e reuniu um número expressivo de estudantes que ficaram em frente à sala de reuniões, no Bloco A. No momento em que um conselheiro saiu surgiu a oportunidade e os estudantes ocuparam a sala de reuniões.

Apesar do movimento Ruy Pauletti foi eleito Reitor. A grande disputa ficou para a indicação do Vice-Reitor. O escolhido, depois de várias votações, foi o Prof. Celso Picolli Coelho. Pauletti assume a reitoria no dia 2 de maio de 1990.

Mas o movimento estudantil não sai derrotado dessa luta, apesar de sofrer um abalo. Logo em seguida, em maio, aconteceram as eleições do DCE. A diretoria presidida pela Patricia estava há uma gestão apenas e o grande desafio era eleger o sucessor. Criou-se um grande frentão de oposição incluindo as forças de direita e algumas de esquerda na chapa intitulada Pés no Chão. Encabeçando a chapa de situação estava Manoel Licks com a chapa Pra Consolidar a Luta. Licks acabou vencendo as eleições.

A greve de 1990
A vitória da chapa Pra Consolidar, somada com a ascensão do movimento estudantil da época levou a uma greve de estudantes no segundo semestre de 1990. Um pouco antes os professores e funcionários haviam feito uma greve reivindicando melhores salários. O DCE apoiou essa manifestação e fez vários movimentos para evitar os furas greve.

Os professores e funcionários obtiveram uma vitória nas suas reivindicações, entretanto, o valor foi integralmente repassado às mensalidade. (Uma ressalva. Como estavamos em uma época de inflação galopante as mensalidades reajustavam todo o mês e sem nenhum critério). Indignados, os estudantes entraram em greve. Com certeza esse foi um dos momentos mais marcantes da história do DCE. As assembléias de greve eram realizadas no auditório do Bloco H (foto ao lado), que logo ficou pequeno para o grande número de participantes e foram transferidas para o Auditório do Cristóvão, com capacidade para 1000 pessoas. (Outra observação. A UCS tinha cerca de 5 mil alunos em 1990). A greve encerra em novembro de 90 com o compromisso da instalação de uma Assembléia Estatuínte e com a constituição de uma ampla comissão de negociação para as mensalidades.

A UCS até chega a cumprir, por algum tempo, as negociações com a comissão, mas logo ela rompe o acordo e isso, aliado a outros fatores, levam aos processos jurídios das consignações em pagamento (mais isso é tema do próximo artigo).

O DCE também é diversão e arte
Nem só de lutas políticas viveu o DCE. A entidade sempre foi uma grande promotora de atividades culturais. Em 1991, como recepção aos calouros foi promovida uma semana inteira de atividades culturais. Apresentaram-se na UCS o Grupo TER (Teatro Experimental Revolucionário) que tínha a frente o ator Jorge Valmini, o acordeonista Oscar dos Reis, entre outros. O DCE também promoveu e foi um dos patrocinadores do LP Imagem das Pedras do músico portoalegrense Gelson Oliveira.

Desobedeça dos pés a cabeça
Esse é o nome da chapa que elege Candido Teles à presidência do DCE. Numa campanha com 3 chapas e bastante disputada a chapa Desobedeça consegue eleger-se, mas não fica com a maioria na diretoria do DCE. Como a gestão é proporcional as chapas oposicionistas, juntas, acabam ficando com o maior número de cargos. Essa unidade acaba não se refletindo na prática e quando existia um movimento para isso as principais decisões acabavam indo para o Conselho de DAs.

Essa gestão iniciou as discussões sobre Estatuínte Universitária, ou seja, a reforma dos estatutos da UCS. Esse processo somente seria finalizado em 1997. A frente da comissão que discutia a estatuínte estavam: Celso Picolli Coelho (Reitoria), Loraine Slomp Giron (Aducs), José Carlos Monteiro (Sinpro), Candido Teles (DCE) e Ademar Sgarbosa (Funcionários). A projeto de Assembléia Estatuínte até chegou a ser finalizado. Ele garantia a participação de estudantes, funcionários e professores e no processo. Devido a pressões do núcleo duro, entenda-se antidemocrático, da reitoria a proposta acabou não entrando em prática.

Outra discussão impornte dessa gestão foi a organização do Fórum de Universidades Pagas. O objetivo era organizar os DCEs do estado para a realização de uma luta em comum contra o aumento das mensalidades. Caxias foi a sede do primeiro encontro onde foi discutida e eleita como linha prioritária a experiência do DCE da Ulbra. Lá os estudantes entraram em juízo questionando os valores das mensalidades e depositando os valores que achavam corretos.

Foi também durante essa gestão que foi promovida uma discussão, com os deputados federais gaúchos, sobre o crédito educativo. Na época apenas o crédito educativo e as bolsas UCS/Prefeitura eram alternativas para quem não tinha condições de pagar as mensalidades, e os dois contemplavam muito poucas pessoas. Participaram desse debate: Germano Rigotto-PMDB, Victor Faccioni-PDS e Raul Pont-PT(que não aparece na foto). (Foto ao lado)

Curiosidades
  • Durante a gestão da Patrícia inicia, pela primeira vez, a organização de um coletivo de mulheres estudantes;
  • O DCE funcionava na sala 104 do Bloco E. Hoje essa sala é ocupada pelo Registro Acadêmico da UCS;
  • A primeira participação que eu tive em uma atividade na UCS foi numa reunião de negociação da Estatuínte Universitária. Como não havia nenhuma pessoa do DCE para ir à reunião e era imprescindível que alguém estivesse presente, eu participei da reunião. (detalhe: eu não era universitário);
  • Em 1991 o DCE rompe com o monopólio do xerox na UCS e compra uma máquina passando assim a controlar os preços cobrados nos outros blocos. A idéia existe até hoje;
  • Em 1992 o DCE abre, em parceira, uma livraria e uma vídeo locadora, na sede da entidade.

4 comentários:

Gabriel Neves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gabriel Neves disse...

Muito bom, Alexandre. É importante nós, militantes do movimento Estudantil, registrarmos as nossas experiências, para a história não se perder.

Tomara que outras pessoas se inspirem com a iniciativa e também contribuam.

Pô, mas podia ter começado quando tu articulou pro Marx ganhar o DA de Economia.

Gabriel

Anônimo disse...

Alexandre, foi muito bom "rever" as imagens deste período que você recuperou. A última greve, as assembléias no Bloco H e no Cristóvão, as manifestações pelas ruas de Caxias. Tem ainda as "livres negociações" do Collor lembra? Todos estes movimentos eram matéria de bons debates no saudoso Voo Livre. Tomara que a Paty e o Licks leiam seu texo. Um abraço, Candido.

Unknown disse...

na verdade meu caro amigo Gabriel Marx não se formou em economia. Por incrivel que pareça ele iniciou cursando Direito, mas doutourou-se em Filosofia.